Os filósofos existencialistas debruçaram-se sobre este tema do "absurdo", mas é Albert Camus aquele que, com o "Mito de Sísifo", nos transporta em pleno para grande questão- a vida merece ou não ser vivida? Uns fazem-se matar pelas suas convicções ou morrem porque perderam a razão de viver. O que está em causa, uma vez mais, é se a vida vale realmente a pena.
Afinal, se pensarmos bem, não fomos nós que determinámos a nossa existência. Calhou. O que fazer depois?
Vou esquecer Camus, que muito admiro e partir para a minha própria reflexão.
Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar uma enorme pedra até ao alto da montanha. Quando chegava ao cume, a pedra rolava e, novamente, Sísifo tinha de voltar a pô-la no cume. Esforço inútil? Depende. Depende e muito de haver ou não um objectivo nessa tarefa. Sísifo não o tinha...era um condenado. Estaremos todos condenados? Não creio. A pedra não tem de rolar necessariamente montanha abaixo. É uma questão de persistência, de convicção. O problema é que, muitas vezes, essa pedra é empurrada sem vontade, por dever. Mantém-se por uns tempos no topo mas, depois, inevitavelmente, volta a rolar porque em nada corresponde às nossas aspirações ou porque permitimos que outros intervenham no processo e, sem darmos conta, distraídos, a deixamos rolar. Os outros. Sempre os outros. O dever sem gosto, nem vontade. As aspirações que se perdem, a fraqueza de seguirmos em frente, o medo de não sermos capazes. Isto é, para mim, o absurdo.
Será que a vida merece ou não ser vivida? Merece ou tem que ser vivida? E que vida? Existência pura e simples, feita de conformismo, sujeita a regras que não foram criadas por nós? Batalhas cansativas e tantas vezes inúteis? Não sei.
A vida é feita de esparços momentos de alegria, alguns de morno contentamento. É feita de derrotas e vitórias. É feita de lágrimas e desesperos. Mais um absurdo! Mas nós somos absurdos. A sociedade em que vivemos é absurda.
Todos os dias, tal como Sísifo, empurro a minha pedra até ao alto da montanha. Tenho momentos em que quero virar as costas aos deuses e optar pelo descanso da não existência. Mas, o amor, esse sentimento difícil de definir, obriga-me a continuar, não querendo. Não é um amor qualquer, feito de rotinas e banalidades. É vida, no seu verdadeiro sentindo. Será mais uma ilusão absurda?
Vou continuar a empurrar a minha pedra, tal como Sísifo.