sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Regresso ao mundo real

Depois de oito Conselhos de Turma, repetitivos no conteúdo e aligeirados por umas quantas piadas oportunas, estou de regresso ao mundo real - o da escola. As perspectivas de trabalho não são as melhores pois os seis sétimos anos, que me calharam na rifa, aparentam vir a dar muita luta - cada turma tem 28 alunos, está carregada de repetentes com um historial que vai desde a criminalidade ao quase desconhecimento da língua portuguesa (Palops em barda), não exceptuando aqueles que foram literalmente depachados de outras escolas, em especial de uma que não prima pela disciplina, nem pelo bom ensino. Naturalmente, foi com alguma apreensão que cada um de nós, os "profes", digeriu ou começou a digerir o que vai ser este novo ano lectivo - os programas têm de ser cumpridos, os alunos têm de adquirir competências e a indisciplina pode vir a ser um obstáculo à concretização destas determinantes. Sem hesitações avancei com propostas de regime tipo militar a aplicar já no início e que foram bem acolhidas..agora vai de cada um ser capaz de as pôr em prática. O nosso sistema de ensino não nos permite ter a autoridade e o respeito que noutros países é prática comum e o novo Estatuto do Aluno não vem, a meu ver, reforçar a autoridade do professor, como foi feito em algumas comarcas espanholas.
Turmas de 28 alunos são uma aberração. Como pode o professor proporcionar um ensino individualizado àqueles que mais necessitam? Como conseguir, no mínimo, memorizar 178 nomes, muitos dos quais de origem africana? Não sei. Já passei por isto e sei o quanto é difícil.
O mais curioso no meio disto tudo é que contínuam a atribuir este tipo de turmas aos professores mais novos, aos que acabaram de chegar à escola, aos menos experientes. Há inclusivamente uma Directora de Turma, acabadinha de chegar, novinha e que nunca foi Directora de Turma. Como disse, em tom irónico, um dos "profes" veteranos nestas andanças: "Querias o quê...que dessem à velhas estas turmas?! Arreavam logo!" Teve piada. Aliás, ele tem sempre piada, em especial quando rematou com esta afirmação: "Se não tivessemos alunos destes, o ensino era uma monotonia."

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