domingo, 26 de setembro de 2010

Escrever...segundo Marguerite Duras

Não me tem apetecido escrever, pelo menos aqui. Pego no livrinho de folhas brancas que alguém me ofereceu pelos meus anos e fico parada, a olhar, sem saber o que rabiscar. Os pensamentos, as ideias, voam em múltiplas direcções e tento apanhá-los, mas esfumam-se mal lhes toco. Preciso do silêncio, da ausência de preocupações e dos compromissos do quotidiano, das solicitações. Não consigo...é frustrante. Peguei no livro de Marguerite Duras e li isto:

É sempre necessária uma separação das pessoas que rodeiam aquele que escreve livros. É uma solidão. É a solidão do autor, a da escrita. Para iniciar a coisa, interrogamo-nos acerca desse silêncio à nossa volta.

Não encontramos a solidão, fazêmo-la. A solidão faz-se só. Eu fi-la.

Ver-se num buraco, no fundo de um buraco, numa solidão quase total e descobrir que só a escrita nos salvará. Estar sem qualquer tema de livro, sem ideia de livro e encontrar-se, reencontrar-se, perante um livro. Uma imensidão vazia. Um livro eventual. Diante de nada. Diante como que de uma escrita viva e nua, como que terrível, terrível de ultrapassar. Creio que a pessoa que escreve está sem ideia de livro, que tem as mãos vazias, a cabeça vazia, e que não conhece, desta aventura do livro, senão a escrita seca e nua, sem futuro, sem eco, longínqua, com as suas regras de ouro, elementares: a ortografia, o sentido.
Marguerite Duras, Escrever, Difel, 1994

Nunca escrevi um livro. Quero escrever um livro. Preciso de o fazer antes que seja tarde demais. Já comecei e recomecei tantas vezes. Tudo me pareceram disparates. A papelada acumula-se. Não sou particularmente dotada, será isso?
Quero romper com todas as amarras, com todos os horários, com essa contingência que é ter de ganhar o pão de cada dia, mas não posso, não posso enquanto houver outros que dependam de mim. Sonhar com a tal casinha de campo, no meio do nada, é impossível de concretizar. Para escrever é preciso liberdade.

2 comentários:

Bandido disse...

Minha para escrever, basta imaginação e força de vontade e o resto surge naturalmente

Saudações Chaladas

Lilith disse...

Mas sem interrupções. Estou-te a ver a mudar fraldas e a escrever uma tese.lol