sábado, 28 de abril de 2012

Eu

Eu sou a que acreditava nas asas do sonho e da fantasia...por momentos julguei que sim.
Eu sou aquela que se revia com orgulho na tela e dizia...sou  gente, gente inteligente.
Eu sou aquela que queria ser amada, incondicionalmente. Ser procurada, desejada...amiga, companheira, mas nunca esquecida ou desprezada.

Olho para mim e questiono-me: quem és tu? Nada.
No nada me revejo e sinto. No nada, reconsidero e digo..."tu vales...tu és alguém". Mas é na solidão dos dias que passam que me dou conta, que esta necessidade de ser algo, passa também por ser algo para alguém.

No nada me deixo ir, porque há uma altura em que querer e lutar deixam de ter significado. Não há o como. A solidão mata. A necessidade mata. A indiferença mata.

Não vejo qualquer razão de ser na existência. Não chamem cobardes aos suicidas.

Cansaço

Nada a dizer, porque não dizer nada é dizer muito.

 

Carta para uma alma penada

Não acredito em fantasmas. A morte, para mim, não dá lugar a nada mais do que poeira, poeira que se mistura com outras poeiras. Se disso resulta alguma coisa...talvez, mas não é isso que me importa. Para mim o que me importa é o facto de existirem duas formas de morrer e, de igual modo, duas formas de permanecer - morre-se a morte física, a morte chorada por alguns e pelo amor ou gosto que nos têm, por aquilo que fizemos em vida, permanecemos nos corações ou na memória dos povos; a outra morte, é muito diferente, é uma morte em vida, deixando de viver simplesmente ou tendo atitudes que matam nos outros a consciência da nossa existência. E o que dizer dos assassinos? Também existem duas espécies de homicidas - os que matam a pessoa física e os que matam, dentro de si próprios, a existência do outro. Eu faço parte dessa segunda espécie de assassinos e, pior (ou melhor) não acredito em fantasmas.

Espero que tenhas compreendido, Moza, estas palavras que escrevi. Tu, que me conheceste bem, sabes que tenho essa tendência para matar pessoas em mim e que se trata de um processo irreversível. Uma vez mortas, enterro-as e delas pouco mais restam que algumas vagas recordações, vazias de sentimentos e emoções, como se de um filme que se viu há muito tempo se tratasse e do qual só nos lembramos, vagamente, de algumas cenas e pouco mais.

Ora o que está morto, deve permanecer assim. Não tem que vir espreitar, qual alma penada, aquilo que penso,sinto e escrevo. Deve remeter-se ao seu mundo da não existência, sob pena de eu sentir pena de uma coisa na qual não acredito - fantasmas.

O recado está dado.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ninguém é de ninguém...

...porque não somos objectos, mas sim pessoas que nascem livres e assim devem permanecer. Mas, para os apaixonados esta sentença quando proferida tem o sabor da derrota, de algo que já se perdeu ou nunca existiu; é impotência e conformismo. 
Quando se ama alguém, gostamos de pensar que esse alguém é nosso, nosso no sentido de que está emocionalmente ligado a nós e que, embora seja um ser individual, caminha ao nosso lado através de um caminho traçado a dois. É a posse desse amor, posse no sentido de afecto único e verdadeiro, que nos faz sorrir, superar dificuldades. O outro fará as suas escolhas, como ser livre que é, mas por instinto apaixonado não deixará de equacionar o outro nessas mesmas escolhas.
Quando me dizem "ninguém é de ninguém" fico sempre de pé atrás, porque bem dentro de nós somos de quem amamos e gostamos de o ser.

domingo, 8 de abril de 2012

À deriva...

Calypso passou a barra em 31 de Agosto de um ano qualquer. Era um navio robusto e ousado, construído para enfrentar todas as ondulações e tempestades, pronto a desbravar mares e oceanos, aflorar continentes, percorrer mundo. Calypso levava consigo um mapa com rumos idealizados, destinos imaginados, portos seguros onde cheiros e cores se misturavam com a música, os risos confiantes dos homens e os abraços reconfortantes das mulheres. 
Passada a barra, o navio maravilha mal tocava a água, voava, ansioso por absorver a vida que se desprendia da espuma, percorrer todas as rotas. Eis senão quando se abateu sobre ele a primeira tempestade. Balançou, abanou, rangeram-lhe as madeiras e uma vela desprendeu-se do mastro, mas Calypso aguentou-se, readquiriu o aprumo e manteve-se em navegação decidida. Não uma, não duas, nem tão pouco três, foram várias, então as tempestades, o canto enganador das sereias, os monstros de goelas abertas e os abismos com que se deparou. O mapa com os rumos idealizados e destinos imaginados estava desbotado, semi-desfeito pela humidade das lágrimas oceânicas. Sem ilhas à vista ou portos seguros, no silêncio da solidão dos dias e noites num mar imenso e sem limites, Calypso parou e deixou-se ficar à deriva.


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Como evitar a dor emocional

A dor emocional é uma das piores dores que podemos sentir, com a agravante de que não existe nenhum medicamento eficaz que resolva o problema rapidamente (apanhar uma bebedeira ou tomar uns quantos ansiolíticos não resolve...é temporário e quando o efeito passa a dor volta mais forte ainda). Há dores emocionais que são inevitáveis, como é o caso daquelas provocadas pela morte de um ente querido. Mas, essas, não temos como contornar e o luto tem de ser vivido, com todas as lágrimas e desesperos naturais. Contudo, existem dores emocionais de outra natureza e, para elas, só existem duas soluções: evitá-las ou matá-las à nascença.

A vida ensina-nos muita coisa, é um processo de aprendizagem constante, mas que se revela inútil se não fazemos uso dos conhecimentos adquiridos. Qualquer pessoa, mesmo a mais empedernida, já passou por situações de dor emocional, seja ela moderada ou forte, por isso deveria ser capaz de evitar tudo aquilo que é susceptível de lhe vir a causar essa mesma dor e todos nós temos mecanismos que nos enviam sinais de alerta. É um pouco como aquele grande apreciador da boa mesa que sabe que, inevitavelmente, vai ter um grande cólica se comer um saboroso prato carregado de cebola. O problema é que mesmo sabendo que ao escolhermos uma determinada situação vamos passar um mau bocado, temos muitas vezes a esperança de que não haverá consequências e ...pronto, acabamos por as sofrer. O ser humano gosta de se eludir e eludir...e lá vem a dor emocional. Esquecemos que, nesta vida, somos um e que quando nos relacionamos perdemos parte do poder de comandar o desenrolar dos acontecimentos...enfim! Então, o meu conselho é o seguinte: se já sabe que determinadas situações lhe podem vir a causar dor emocional, evite-as a todo o custo e dedique-se a actividades que dependam apenas de si. Custa muito? Talvez não. Só se expõe quem quer.

Bom, já aconteceu e a dor emocional instalou-se? Como a matar? Deixando de se importar. Só o que nos importa nos faz sofrer, por isso terá de efectuar o exercício mental de eliminar toda e qualquer importância que a causa da dor tenha para si. Eu sei que não é fácil, pois requer muita disciplina e perseverança (o equivalente a começar a frequentar um ginásio quando se tem uns valentes quilos a mais), mas se tiver amor próprio (se não for você a tê-lo, ninguém o terá por si) vai conseguir. Quando lhe surgirem pensamentos indesejáveis substitua-os por outros, mesmo que banais; movimente-se, caminhe, veja uma comédia; imponha a regra do não, não quero e repita-a constantemente para si mesmo; veja todas as fotografias dos seus albuns e relembre tudo o que sentia quando elas foram tiradas, o que aconteceu depois, o quase nada ou o mesmo nada que sente agora...porque tudo passa, passa mesmo e muitas vezes é o nada que sobra. Mas, nunca por nunca arranje desculpas ou se vitimize - o que tem foi escolha sua, por isso desenrasque-se. 
Evitar a dor emocional é uma arte que se conquista com o tempo, mas saber superá-la, eliminá-la, é uma vitória que nos torna mais fortes e capazes para viver a vida.