sexta-feira, 28 de maio de 2010

Solidão

Definam-me esta palavra, mas não pelo dicionário, pois encontro para ela múltiplos significados, mas todos eles me levam a uma única conclusão: a solidão é uma escolha.

É já um cliché a frase: "sozinho no meio da multidão" e, mesmo numa casa cheia de gente, podemos sentir esse "estar sozinho", essa tal de solidão. E esse sentimento causa sofrimento, sem dúvida. Mas é uma escolha, inconsciente, condicionada pela características da nossa personalidade ou (e também) porque algo falhou nalgum momento da nossa vida, a auto-estima foi-se e um certo vazio interior se instalou. É esse vazio que se tem de preencher. Mas não há ninguém que o possa fazer por nós - daí o estar "sozinho numa casa cheia de gente". Podemos procurar novas amizades, novas paixões, novos relacionamentos, uns após os outros, viver a ilusão inicial, que a novidade trás, de ter esse vazio preenchido por instantes, mas depois ele regressa teimosamente.

Como preencher esse vazio interior? Não há receitas mágicas. Mas, uma coisa fundamental é gostarmos de nós próprios - conhecermos e aceitarmos os nossos defeitos, as nossas limitações (pois somos humanos e como tal imperfeitos); não nos medirmos pelos padrões de conduta dos outros, julgando-os melhores do que nós e acreditarmos que temos virtudes, competências, capacidades que fazem de nós pessoas com valor.

Em determinada altura da minha vida, senti-me só. Tinha carradas de gente à minha volta e uma casa cheia, mas mesmo assim havia um vazio. Tive bons motivos para isso...todos temos bons motivos para isso - uma má palavra, uma indiferença do outro, desejos que ficam por satisfazer, conflitos que ficam por resolver. Caí numa solidão imensa e desesperada, precisamente porque não acreditava ser uma pessoa de valor. Esperava continuamente que os outros me confirmassem, reconhecessem explicitamente esse valor. Quando tal não acontecia, a dúvida instalava-se, o vazio crescia.

Não podemos depender dos outros para nos amar-mos. O vazio, só nós podemos preencher, mais ninguém.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Ensaio sobre a hipocrisia

Diz a wikipédia (recurso web nem sempre fidedigno) que a hipocrisia é o acto de fingir crenças, virtudes, ideias e pensamentos que a pessoa na verdade não possui.

Nem todos optamos por esse caminho, nas nossas relações com os outros, felizmente. Somos "animais sociais" e como tal, só muito dificilmente recusamos a necessidade do outro, dos outros, a menos que almejemos a uma vida de ascetas e, mesmo assim, coisa rara, e discutível.
Ao necessitarmos dos outros, ao querermos os outros, temos duas formas muito simples para estabelecer a ligação pretendida: mostrarmo-nos como somos ou recorrer à hipocrisia. O que move a pessoa a optar por um ou por outro caminho? No meu entender, aquele que opta por nada esconder e revelar a sua verdadeira natureza, é aquele que se aceita, que reconhece as suas virtudes e os seus defeitos, que não teme ser julgado que está bem consigo próprio e no qual prevalecem valores universais, como a honestidade. O honesto/a procura alcançar os seus fins, escolhendo os meios que não prejudiquem o outro, porque vê pessoas e não objectos. Respeita, porque quer ser respeitado e deseja o absoluto e não a condição enganosa. Está em paz consigo próprio, despreza o individualismo e o egocentrismo, e encara a rejeição como algo normal na vida e não como um ataque à sua auto-estima.
O hipocrita...esse vive da mentira, da ilusão. Busca os fins sem olhar a meios. Finge ser o que não é, porque quer obter algo que entende ser incapaz de alcançar por valor próprio, ou porque simplesmente vê o outro como objecto (e não pessoa), como um tal meio para alcançar um fim. O hipocrita é um manipulador, muitas vezes desajeitado, que deixa cair a máscara, quando o objecto deixa de ser o tal meio para alcançar os seus fins.

A hipocrisia é uma forma doentia de estarmos na vida.

sábado, 22 de maio de 2010

Lilith: a verdadeira história

Na cultura popular hebraica medieval, Lilith é considerada a primeira mulher de Adão. O relacionamento entre os dois não terá sido o melhor, pois Lilith recusava submeter-se ao macho primordial . A história não acabou da melhor forma, pois Lilith, mau exemplo para uma sociedade patriarcal e que assim se queria manter, acabou por ser considerada um demónio que punha em causa as leis de Deus e do homem.

Não entendamos Lilith como um feminista, mas apenas como uma mulher que aspirava à igualdade, conhecedora do seu real valor como ser humano.
Lilith queria aquilo que muitos, sejam eles homens ou mulheres, desejam - a harmonia, a cumplicidade, a entrega - realizar a velha utopia do eu+eu= nós, as duas faces de uma mesma moeda.