Definam-me esta palavra, mas não pelo dicionário, pois encontro para ela múltiplos significados, mas todos eles me levam a uma única conclusão: a solidão é uma escolha.
É já um cliché a frase: "sozinho no meio da multidão" e, mesmo numa casa cheia de gente, podemos sentir esse "estar sozinho", essa tal de solidão. E esse sentimento causa sofrimento, sem dúvida. Mas é uma escolha, inconsciente, condicionada pela características da nossa personalidade ou (e também) porque algo falhou nalgum momento da nossa vida, a auto-estima foi-se e um certo vazio interior se instalou. É esse vazio que se tem de preencher. Mas não há ninguém que o possa fazer por nós - daí o estar "sozinho numa casa cheia de gente". Podemos procurar novas amizades, novas paixões, novos relacionamentos, uns após os outros, viver a ilusão inicial, que a novidade trás, de ter esse vazio preenchido por instantes, mas depois ele regressa teimosamente.
Como preencher esse vazio interior? Não há receitas mágicas. Mas, uma coisa fundamental é gostarmos de nós próprios - conhecermos e aceitarmos os nossos defeitos, as nossas limitações (pois somos humanos e como tal imperfeitos); não nos medirmos pelos padrões de conduta dos outros, julgando-os melhores do que nós e acreditarmos que temos virtudes, competências, capacidades que fazem de nós pessoas com valor.
Em determinada altura da minha vida, senti-me só. Tinha carradas de gente à minha volta e uma casa cheia, mas mesmo assim havia um vazio. Tive bons motivos para isso...todos temos bons motivos para isso - uma má palavra, uma indiferença do outro, desejos que ficam por satisfazer, conflitos que ficam por resolver. Caí numa solidão imensa e desesperada, precisamente porque não acreditava ser uma pessoa de valor. Esperava continuamente que os outros me confirmassem, reconhecessem explicitamente esse valor. Quando tal não acontecia, a dúvida instalava-se, o vazio crescia.
Não podemos depender dos outros para nos amar-mos. O vazio, só nós podemos preencher, mais ninguém.