quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Still Life


Nem sempre estive onde devia estar e nem sempre fiquei onde devia ficar.
Cheguei atrasada sem querer e adiantada sem o saber.
Quis e não quis, ignorei com vontade ou sem ela o óbvio e o nem por isso.
Tantos gestos e vozes que passaram por mim e através de mim sem que me desse conta. Paisagens das quais me escaparam os pormenores, nada mais.
Momentos fugazes, tão cheios de tudo e de nada. Impermanência e vontade dela. Quantos caminhos não percorridos e tantos deixar –me ficar à beira da estrada. E outros tantos  através dos quais corri em busca de algo que julgava existir e do que existia mesmo.
Alegrias, tristezas, gritos e silêncios. Coisas sem sentido e outras tantas cheias dele.


terça-feira, 1 de maio de 2012

Desilusão

Com o avançar da idade e com a experiência que a vida nos vai concedendo, vamos aprendendo a nos defender das desilusões. Elas fazem parte de nós, vão-se acumulando, abrem-nos olhos para a realidade e dão um pontapé nos sonhos. Mesmo assim vamos teimando em acreditar, tendo esperança, fé de que ainda exista algo ou alguém que marque a diferença. Inevitavelmente acabamos por nos colocar a jeito para mais uma desilusão.

As minhas desilusões já são tantas, que deixei de me iludir.

sábado, 28 de abril de 2012

Eu

Eu sou a que acreditava nas asas do sonho e da fantasia...por momentos julguei que sim.
Eu sou aquela que se revia com orgulho na tela e dizia...sou  gente, gente inteligente.
Eu sou aquela que queria ser amada, incondicionalmente. Ser procurada, desejada...amiga, companheira, mas nunca esquecida ou desprezada.

Olho para mim e questiono-me: quem és tu? Nada.
No nada me revejo e sinto. No nada, reconsidero e digo..."tu vales...tu és alguém". Mas é na solidão dos dias que passam que me dou conta, que esta necessidade de ser algo, passa também por ser algo para alguém.

No nada me deixo ir, porque há uma altura em que querer e lutar deixam de ter significado. Não há o como. A solidão mata. A necessidade mata. A indiferença mata.

Não vejo qualquer razão de ser na existência. Não chamem cobardes aos suicidas.

Cansaço

Nada a dizer, porque não dizer nada é dizer muito.

 

Carta para uma alma penada

Não acredito em fantasmas. A morte, para mim, não dá lugar a nada mais do que poeira, poeira que se mistura com outras poeiras. Se disso resulta alguma coisa...talvez, mas não é isso que me importa. Para mim o que me importa é o facto de existirem duas formas de morrer e, de igual modo, duas formas de permanecer - morre-se a morte física, a morte chorada por alguns e pelo amor ou gosto que nos têm, por aquilo que fizemos em vida, permanecemos nos corações ou na memória dos povos; a outra morte, é muito diferente, é uma morte em vida, deixando de viver simplesmente ou tendo atitudes que matam nos outros a consciência da nossa existência. E o que dizer dos assassinos? Também existem duas espécies de homicidas - os que matam a pessoa física e os que matam, dentro de si próprios, a existência do outro. Eu faço parte dessa segunda espécie de assassinos e, pior (ou melhor) não acredito em fantasmas.

Espero que tenhas compreendido, Moza, estas palavras que escrevi. Tu, que me conheceste bem, sabes que tenho essa tendência para matar pessoas em mim e que se trata de um processo irreversível. Uma vez mortas, enterro-as e delas pouco mais restam que algumas vagas recordações, vazias de sentimentos e emoções, como se de um filme que se viu há muito tempo se tratasse e do qual só nos lembramos, vagamente, de algumas cenas e pouco mais.

Ora o que está morto, deve permanecer assim. Não tem que vir espreitar, qual alma penada, aquilo que penso,sinto e escrevo. Deve remeter-se ao seu mundo da não existência, sob pena de eu sentir pena de uma coisa na qual não acredito - fantasmas.

O recado está dado.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ninguém é de ninguém...

...porque não somos objectos, mas sim pessoas que nascem livres e assim devem permanecer. Mas, para os apaixonados esta sentença quando proferida tem o sabor da derrota, de algo que já se perdeu ou nunca existiu; é impotência e conformismo. 
Quando se ama alguém, gostamos de pensar que esse alguém é nosso, nosso no sentido de que está emocionalmente ligado a nós e que, embora seja um ser individual, caminha ao nosso lado através de um caminho traçado a dois. É a posse desse amor, posse no sentido de afecto único e verdadeiro, que nos faz sorrir, superar dificuldades. O outro fará as suas escolhas, como ser livre que é, mas por instinto apaixonado não deixará de equacionar o outro nessas mesmas escolhas.
Quando me dizem "ninguém é de ninguém" fico sempre de pé atrás, porque bem dentro de nós somos de quem amamos e gostamos de o ser.

domingo, 8 de abril de 2012

À deriva...

Calypso passou a barra em 31 de Agosto de um ano qualquer. Era um navio robusto e ousado, construído para enfrentar todas as ondulações e tempestades, pronto a desbravar mares e oceanos, aflorar continentes, percorrer mundo. Calypso levava consigo um mapa com rumos idealizados, destinos imaginados, portos seguros onde cheiros e cores se misturavam com a música, os risos confiantes dos homens e os abraços reconfortantes das mulheres. 
Passada a barra, o navio maravilha mal tocava a água, voava, ansioso por absorver a vida que se desprendia da espuma, percorrer todas as rotas. Eis senão quando se abateu sobre ele a primeira tempestade. Balançou, abanou, rangeram-lhe as madeiras e uma vela desprendeu-se do mastro, mas Calypso aguentou-se, readquiriu o aprumo e manteve-se em navegação decidida. Não uma, não duas, nem tão pouco três, foram várias, então as tempestades, o canto enganador das sereias, os monstros de goelas abertas e os abismos com que se deparou. O mapa com os rumos idealizados e destinos imaginados estava desbotado, semi-desfeito pela humidade das lágrimas oceânicas. Sem ilhas à vista ou portos seguros, no silêncio da solidão dos dias e noites num mar imenso e sem limites, Calypso parou e deixou-se ficar à deriva.


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Como evitar a dor emocional

A dor emocional é uma das piores dores que podemos sentir, com a agravante de que não existe nenhum medicamento eficaz que resolva o problema rapidamente (apanhar uma bebedeira ou tomar uns quantos ansiolíticos não resolve...é temporário e quando o efeito passa a dor volta mais forte ainda). Há dores emocionais que são inevitáveis, como é o caso daquelas provocadas pela morte de um ente querido. Mas, essas, não temos como contornar e o luto tem de ser vivido, com todas as lágrimas e desesperos naturais. Contudo, existem dores emocionais de outra natureza e, para elas, só existem duas soluções: evitá-las ou matá-las à nascença.

A vida ensina-nos muita coisa, é um processo de aprendizagem constante, mas que se revela inútil se não fazemos uso dos conhecimentos adquiridos. Qualquer pessoa, mesmo a mais empedernida, já passou por situações de dor emocional, seja ela moderada ou forte, por isso deveria ser capaz de evitar tudo aquilo que é susceptível de lhe vir a causar essa mesma dor e todos nós temos mecanismos que nos enviam sinais de alerta. É um pouco como aquele grande apreciador da boa mesa que sabe que, inevitavelmente, vai ter um grande cólica se comer um saboroso prato carregado de cebola. O problema é que mesmo sabendo que ao escolhermos uma determinada situação vamos passar um mau bocado, temos muitas vezes a esperança de que não haverá consequências e ...pronto, acabamos por as sofrer. O ser humano gosta de se eludir e eludir...e lá vem a dor emocional. Esquecemos que, nesta vida, somos um e que quando nos relacionamos perdemos parte do poder de comandar o desenrolar dos acontecimentos...enfim! Então, o meu conselho é o seguinte: se já sabe que determinadas situações lhe podem vir a causar dor emocional, evite-as a todo o custo e dedique-se a actividades que dependam apenas de si. Custa muito? Talvez não. Só se expõe quem quer.

Bom, já aconteceu e a dor emocional instalou-se? Como a matar? Deixando de se importar. Só o que nos importa nos faz sofrer, por isso terá de efectuar o exercício mental de eliminar toda e qualquer importância que a causa da dor tenha para si. Eu sei que não é fácil, pois requer muita disciplina e perseverança (o equivalente a começar a frequentar um ginásio quando se tem uns valentes quilos a mais), mas se tiver amor próprio (se não for você a tê-lo, ninguém o terá por si) vai conseguir. Quando lhe surgirem pensamentos indesejáveis substitua-os por outros, mesmo que banais; movimente-se, caminhe, veja uma comédia; imponha a regra do não, não quero e repita-a constantemente para si mesmo; veja todas as fotografias dos seus albuns e relembre tudo o que sentia quando elas foram tiradas, o que aconteceu depois, o quase nada ou o mesmo nada que sente agora...porque tudo passa, passa mesmo e muitas vezes é o nada que sobra. Mas, nunca por nunca arranje desculpas ou se vitimize - o que tem foi escolha sua, por isso desenrasque-se. 
Evitar a dor emocional é uma arte que se conquista com o tempo, mas saber superá-la, eliminá-la, é uma vitória que nos torna mais fortes e capazes para viver a vida.

domingo, 25 de março de 2012

O suicídio

O suicídio é encarado com receio e até mesmo com aversão pela sociedade ocidental. Na base dessa aversão encontram-se crenças religiosas, mas sobretudo a ideia de que a morte é algo detestável, aterrorizador, logo quem opta por ela não é mentalmente são. Não concordo. Quando todos os recursos estão esgotados e a vida se limita a um arrastar de dor e desesperança, porque não pôr termo a ela? 
Todos nós temos uma ideia daquilo que é vida, mas não há um conceito único, geral, do que é a vida. Cada indivíduo é uma vida em si e encontra a justificação para ela na satisfação das suas necessidades, na sua capacidade ou incapacidade para gerir o sofrimento. Assim, pôr termo à vida é uma escolha pessoal, que ninguém pode nem deve julgar. Afinal, a nossa vida é a única coisa de que dispomos verdadeiramente. 
A sociedade diz-nos que não podemos dispor da nossa vida porque temos responsabilidades para com os outros - família, amigos...sei lá quem mais. Mas eu acho que temos, sobretudo, uma responsabilidade para com nós próprios e viver ou não viver é uma delas. 
Se eu optar pelo suicídio dirão - foi fraca, cobarde; não pensou nos filhos; não amou os outros o suficiente. Muito pelo contrário. Talvez tenha amado tanto que tenha percebido que apenas uma presença física não basta e que o pior que posso dar aos outros é o triste espectáculo da minha própria incapacidade de viver.

O suicídio não é um acto simples. É a substituição de uma dor por uma outra desconhecida, pelo vazio da não existência. É a incerteza para com os que cá ficam e o que será para nós depois...o nada. De qualquer modo a morte é inevitável para todos - um dia vai chegar -, porque não sermos nós a decidir o quando e como?

Desistir...

Desistir é para os fracos? É algo próprio daqueles que enfermam de cobardia? Não creio. Desistir à mínima dificuldade, talvez, mas o que dizer daqueles que batalham uma vida inteira para nada?! Existem metas inalcansáveis, causas perdidas, sonhos impossíveis. A verdadeira coragem está, sim, no reconhecimento de que se fez o que se pode e, simplesmente, está na altura de desistir. 
Nem tudo depende de nós e do nosso esforço. Um emprego, uma amizade, um amor, nem sempre nos dão a merecida satisfação, quando não nos causam dissabores, sofrimento. Pudemos ter feito de tudo, mas mesmo assim pouco ou nada conseguimos e andamos a "malhar em ferro frio". É preciso ter a coragem de reconhecer que não somos suficientemente bons ou, apenas, isto ou aquilo não era para nós. Olhamos para trás, vemos dias, semanas e quantas vezes anos de luta inglória e perguntamos...porquê e para quê? Para isto? Tão pouco por tanto? Um nada em resultado de tanta persistência, de uma paciência infrutífera?
Não. É preciso desistir, quando chegou a altura de o fazer.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Acrescento à postagem "This is War"

Como morre um homem

Um homem não morre por força da lei da vida. Um homem não desaparece por deixar de respirar e voltar ao pó. A morte de um homem dá-se dentro do coração e da memória dos outros homens.

Tempos dificeis

Tempos difíceis estes em que vivemos. Tempos difíceis para a maioria. Será que alguma vez o deixaram de ser?!
No século XVIII, algumas vozes se ergueram contra a injustiça que vergava parte da humanidade ao despotismo de uma outra. Segundo os filósofos das Luzes, os Homens nasciam todos sob a mesma condição - livres e iguais -, como tal todos deveriam ter os mesmos direitos. Rosseau, na sua obra "O Contrato Social" afirmou que um homem que perde a sua liberdade, perde a vida.
Inspiradas nas ideias das Luzes, tiveram lugar revoluções. Delas, das ideias e dos Homens, nasceram  declarações de independência, do Homem e do Cidadão. Na prática, arrastaram-se injustiças que tiveram de ser combatidas com sangue suor e lágrimas - o esclavagismo, o direito à igualdade política entre homens e mulheres.
Em 1945, após os horrores da II Guerra Mundial, foi elaborada a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Contudo, embora esta tenha inspirado a Constituição de alguns países, não tem força de lei e a sua universalidade é ainda motivo de discussão em face da suposta legitimidade de culturas e tradições que desprezam os direitos naturais e inalienáveis do ser humano.

Neste pequeno mundo em que vivo. Neste pequeno país periférico de uma Europa incapaz de evitar crises económico-sociais, nem tão pouco uma nova ascensão da Alemanha, eu me questiono sobre esta gritante passividade do cidadão, pelo encolher de ombros face as divisões, injustiças, por este flagrante ignorar sistemático daquilo que a História nos ensina.

Há tanto por fazer e tão poucos que o tentam!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Amar não é um faz de conta...

...é um sentimento que nasce, cresce e que não queremos que morra. Há amores ditos incondicionais, por força dos laços de sangue, como aqueles que temos em relação aos nossos pais, aos nossos filhos. Mas, mesmo esses e sabemos bem, mesmo esses podem morrer devido a comportamentos que ferem, que quebram mesmo os mais fortes laços, pois são agressão, desrespeito, comprometem a nossa integridade, o nosso eu.
Amar é um sentimento que nasce, cresce, que é fruto de acções e outros sentimentos - respeito, partilha, cumplicidade, prazer, empatia. Não é, de todo, um faz de conta porque estou empolgado, excitado, a viver uma paixão que me estimula a mente e os sentidos. Isso é tempo breve. O amor revela-se perante as dificuldades e concretiza-se perante a superação dos obstáculos, na consciência de que todos somos como somos - fracos, imperfeitos, mas corajosos e sublimes, também, se o quiseremos. Nele não há sacrifício, nem dor, porque há certeza, confiança, diálogo permanente e os problemas são resolvidos com calma, perseverança. Nada há a esconder e num abraço quente se libertam as frustações, as fantasias, as lágrimas e os sorrisos.

O meu amor não é um faz de conta e nasceu, cresceu e está vivo, porque as minhas necessidades foram colmatadas, os meus interesses correspondidos e me sinto preenchida por um outro que, não sendo igual a mim, tem tudo a ver comigo - me vê, me sente, como eu o vejo e sinto.

É verdadeiro o meu amor e nele não há mentira, maldade, desconfiança, jogos ou abandono.

E é nesta simplicidade do ser, nesta vontade do dar e na humildade do receber que me revejo e digo - obrigada por me amares, por me fazeres sentir amada e por, a cada dia que passa, esse mesmo sentimento crescer em mim e eu não querer que morra nunca.


domingo, 8 de janeiro de 2012

This is war

O conflito entre povos tem sido uma constante ao longo da História e atingiu o seu auge no século XX com as duas Grandes Guerras. Com o domínio da energia nuclear tornou-se, posteriormente, improvável uma guerra pela força das armas. Contudo, uma outra forma de guerra não menos poderosa está a ser travada, com outras armas, com uma outra estratégia.
Há quem fale numa III Guerra Mundial eminente, mas eu não creio nisso. Ela já começou e os lideres das alcateias humanas estão a lutar, uma vez mais, pela supremacia, no quadro do sistema capitalista por eles criado e por nós consentido. Haverá perdas humanas, como em todas as guerras...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012

Quase meio século...
Há coisas que não valem a pena e outras tantas que merecem a nossa atenção. Com o tempo aprende-se a separar o "trigo do joio", a escolher as cores com queremos pintar o quadro da nossa vida e as pessoas que realmente merecem estar ao nosso lado. Com o tempo aprendemos que nunca é tarde para lutar pelas nossas convicções, ignorar o que tem de ser ignorado e saborear cada minuto como se fosse o último.
Quase meio século...A vida é um instante fugaz - todos os rostos, todos os locais por onde passei, todos os beijos que dei e recebi, todas as emoções que senti, perdem-se no tempo...são farrapos de muita coisa e de coisa nenhuma.