domingo, 8 de abril de 2012

À deriva...

Calypso passou a barra em 31 de Agosto de um ano qualquer. Era um navio robusto e ousado, construído para enfrentar todas as ondulações e tempestades, pronto a desbravar mares e oceanos, aflorar continentes, percorrer mundo. Calypso levava consigo um mapa com rumos idealizados, destinos imaginados, portos seguros onde cheiros e cores se misturavam com a música, os risos confiantes dos homens e os abraços reconfortantes das mulheres. 
Passada a barra, o navio maravilha mal tocava a água, voava, ansioso por absorver a vida que se desprendia da espuma, percorrer todas as rotas. Eis senão quando se abateu sobre ele a primeira tempestade. Balançou, abanou, rangeram-lhe as madeiras e uma vela desprendeu-se do mastro, mas Calypso aguentou-se, readquiriu o aprumo e manteve-se em navegação decidida. Não uma, não duas, nem tão pouco três, foram várias, então as tempestades, o canto enganador das sereias, os monstros de goelas abertas e os abismos com que se deparou. O mapa com os rumos idealizados e destinos imaginados estava desbotado, semi-desfeito pela humidade das lágrimas oceânicas. Sem ilhas à vista ou portos seguros, no silêncio da solidão dos dias e noites num mar imenso e sem limites, Calypso parou e deixou-se ficar à deriva.


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