quarta-feira, 20 de julho de 2011

Vida e morte

Espreita esfomeada a barata, naquele canto da sala. Mexe as antenas e, num corropio de patas, avança decidida para a migalha suculenta. Pelo caminho a minha vassoura corta-lhe a intenção. Uma, duas, três vezes leva com ela, com a vassoura que a acaba por varrer para um canto qualquer. Esqueço-me dela, da barata, mas as formigas não, pois andam atentas a coisas suculentas como aquela desgraçada. Uma vida, na sua morte, dá alento e alimento a uma outra vida.
Há nas pequenas coisas uma grandeza que nos escapa e que só com o tempo e muita sabedoria podemos alcançar. O que é uma lágrima passageira ou uma insatisfação momentânea, face ao espectáculo da Natureza, onde tudo se perpétua, renova? Mesmo no deserto, naquela areia tão aparentemente estéril, nasce uma flor.


terça-feira, 19 de julho de 2011

Reflecte...

"Reflecte sobre a velocidade com que tudo o que existe e virá a existir passa por nós e desaparece da vista. A substância é como um rio em perpétuo fluxo...e sempre ao nosso lado está a incomensurável extensão do passado e o enorme abismo do futuro, no qual todas as coisas desaparecem. Assim, como pode não ser louco aquele que no meio de tudo isto se incha de orgulho, ou tormento, ou lamenta a sua porção como se os seus problemas durassem por muito tempo."
Marco Aurélio, imperador romano do séc. II

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Deus?!

Que coisa é essa transcendental, omnipresente e divina que afirmam, alguns, ser Deus - "O" criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis?! Como pode o ser humano enquanto ser finito entender e infititude, se é isso mesmo...finito? A ideia de um ser supremo nasce precisamente desta nossa incapacidade de explicar o eterno que não é a nossa realidade, de explicar a vida em si e tudo o que de mau nela acontece. A morte que tanto nos assusta tem de ter uma explicação, um mais, algo mais para além dela, pois aterroriza a ideia da ausência do ser.
Somos matéria inteligente, integrada num Universo complexo, feito de sistemas solares (muito semelhantes aos átomos), galáxias e por aí fora, em movimento constante, onde se nasce, cresce, vive e morre.

Não queiras entender o infinito. Não busque um começo e um fim. Despega-te desse determinismo a que a finitude te obriga e encara a existência apenas como algo que é e sempre foi, sem princípio nem fim. Uma outra noção do cosmos.

Deus?! E quem criou Deus?! E quem criou o que criou Deus?! Esquece a ideia de criação. Nada se cria,  permanência em transformação é a base de todas as coisas.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Não consigo escrever...por enquanto.

Não é por falta de ideias, nem de palavras para as expressar. Não é por falta de imaginação, porque essa continua a dar-me bons momentos de riso solitário ou leva-me a planar por locais que nem sei se existem. Tão pouco estou reduzida ao silêncio, dado que todos os dias falo com alguém, sobre algo, seja o que for, com maiores ou menores variações de conteúdo, seja ele banal ou surreal.
Acho que deixei de sentir a escrita como uma necessidade e não sei se isso é bom ou mau sinal. Talvez deva perder a mania de achar que tudo tem uma explicação, que tudo é sinal de alguma coisa quando, na verdade, não é coisa alguma, nem tem de ser. O que eu sei é que para escrever é preciso sentir e eu não sinto nada - nem a tristeza que liberta um poema, nem a alegria que pinta as letras com as cores quentes de uma gargalhada. Não sinto nenhum "solitário andar por entre as gentes", nem os extâses de uma paixão. Estou numa modorra literária, pois até o que leio, leio com o desprendimento de quem lê, por ler.
O que fazer?!