terça-feira, 8 de março de 2011

Naquele planalto em terra incerta, estende-se o verde de um campo primaveril. Erva rasteira, ondulante sob uma brisa amena que desperta odores frescos de juventude. Ao longe uma árvore de braços caídos, plena de folhagem, liberta pequenas nuvens de sementes que pairam levemente e descansam, depois, por entre o frenético zunir das abelhas que, de flor em flor, se saturam do polém e bebem o néctar eterno e sempre renovado da Natureza. Junto a essa lânguida árvore há uma casa por onde passaram muitas vidas. Ecoam vozes mortas através daquelas paredes, daquelas janelas abertas e abandonadas, com fiapos de cortina envelhecida. Não tem telhado a casa e a sua desolação é silêncio por onde trepa a vegetação do abandono.

O meu vestido é tão branco, como brancas são as flores que toco com os meus dedos. Deitada na erva macia olho o azul profundo do céu e oiço a voz do anjo sem asas, cujos susurros se confudem com o som da brisa que faz ondular as ervas e a beira da minha saia.

Seguro o meu chapéu de abas largas e caminho em direcção à casa nua, morta, mas tão cheia de memórias. Corro, pisando o verde, por entre abelhas e as sementes de polém que daquela árvore se despredem. Cheguei! Toco as paredes nuas. Encosto o meu rosto a elas e absorvo o cheiro do passado, da vida que persiste, esquecida, em tons de ocre e sépia.

Mais longe, ao fundo da pradaria verde, avista-se o penhasco e o mar. Planam gaivotas e os seus gritos clamam por mim...O mergulho é para o infinito, num mar revolto que espuma lá em baixo nas rochas e que me recebe de braços abertos no esquecimento que procuro e me deixo ir, como Ofélia.


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