quinta-feira, 31 de março de 2011

1434 - Bojador

Determinados, os homens avançam para a barca que os há de levar para além do mar conhecido. Aventureiros, curiosos e destemidos, sabem bem que podem falhar no seu propósito de passar para além do Bojador e que, por teimosia daquele Infante, poderão nunca regressar. Dormirão ao relento, sob a chuva e o vento, batidos pelas ondas da incerteza e, talvez, por essa sede e fome próprias dos marinheiros de outros tempos. No cais, despedem-se de mulheres chorosas que veêm assim partir o garante do seu sustento, com promessas de abundância, caso tão arrojado empreendimento traga o esperado resultado. Doze anos de tentativas goradas de passar aquele Cabo, deixam-nas a elas, às mulheres chorosas, descrentes, duvidosas.
Içam-se as velas.
Já se fizeram ao mar, mas não muito longe da costa.
A barca baila sob a ondulação azul, cristalina, com cheiro a sal e a esperança.
Gil Eanes reza. Gil Eanes reza e faz cálculos e mais cálculos, medindo distâncias e até a sua própria vontade de agradar àquele teimoso Infante, seu senhor, pois o Bojador já se adivinha no horizonte.
Está tomada a decisão! O capitão-escudeiro grita: "Vamo-nos afastar cinquenta léguas do maldito cabo...é a única forma de o passar!"
 Batem, acelerados, os corações dos navegantes. "Será desta? Será desta?" gritam vozes caladas dentro dos peitos "Que mar de fogo nos espera se conseguirmos passar este Bojador?!"

1434, Gil Eanes e os seus marinheiros passam o Cabo Bojador, limite sul dos conhecimentos europeus, demonstrando que era possível continuar a navegar ao longo da costa africana.



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