quarta-feira, 16 de março de 2011

Hoje não é dia de cansaços, nem monotonias. Vou largar a papelada rabiscada num canto bem escondido e dar descanso a esta voz saturada de estórias da História, pedagogias e psicologias inventadas. Tão pouco irei ficar parada a olhar aquela mesma parede de sempre, com ideias de pincel e tinta, mas sem vontade de nada que não seja, isso mesmo, olhar. Afastarei, com persistência, a imperiosa necessidade de retirar aquela camada de pó que me pede pano, pois de preciosismos domésticos estou eu farta e não sou Marta, sou Maria. Maria por baptismo e por melâncolia de quem nasceu para a vida contemplativa.
Hoje não vou verter lágrimas, porque de tanto sal que já perdi, acabarei por me tornar ensonsa. Outras lágrimas, que não as minhas, chamam por mim e são tantas, mas tantas, tão choradas ao longo de séculos e séculos de ânsias e dores, que delas nasceram os oceanos. Pois é isso mesmo! Neste hoje saturado da saturação de quotidianos sempre iguais, como que feitos por medida, vou ver o mar, vou beber o seu azul profundo e deixar-me flutuar ao sabor das marés, como uma sereia esquecida à tona d'água. É tão fácil imaginar!
De olhos bem fechados e com as mãos sobre as orelhas, sem um mover de pernas, de nada, dou por mim, tão rápida como uma batida de coração, à beira dele, do tal mar salgado, agitado de emoções esquecidas e sempre alimentado por outras novas. Perder-me no seu silêncio é o que mais quero, transformando-me em algas, conchas, navio fantasma sem rumo, porque sem rumo estou e só conheço a incerteza dos dias vazios, sem passado, nem futuro.

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