sábado, 19 de março de 2011

Bushido

O que resta do Japão de outras eras? Talvez subsistam ainda, longe das grandes metrópoles, no mundo rural, fragmentos daquela alma japonesa tão admirada por Venceslau de Morais . Após Hiroshima e Nagazaki, o Império do Sol Nascente teve de adaptar-se ao Ocidente, sob a égide do gigante capitalista, num mundo dividido em dois grandes blocos políticos, económicos e sociais. Soube fazê-lo, tornando-se ele próprio noutro gigante, fruto daquilo a que a História chama de "o milagre japonês". Acredito que, não haverá terramoto, nem tsunami que dobre essa alma japonesa e que nem mesmo a ameaça nuclear ponha fim a uma civilização, que é única e imparável.
Uma civilização que criou um código de conduta que se pauta por valores inquestionáveis de honra e fidelidade - o Bushido.

O Bushido, que significa "o caminho do guerreiro" era o código de conduta que devia ser observado pela classe guerreira (Samurais) no Japão feudal.  O conceito de honra é fundamental e extensível, não apenas ao samurai mas a todos, inclusivé às mulheres, sob pena de serem alvo de desprezo. Lealdade, etiqueta, educação, frugalidade e gratidão, deviam estar sempre presentes. A própria morte, dado que existia a crença numa vida para além dela, deveria ser honrosa e a única saída possível para uma falha imperdoável, insuportável para o próprio. Através do seppuku (suicídio ritual), o samurai podia recuperar a sua honra perdida:
"No mundo dos guerreiros, seppuku era um acto de bravura que era admirável em um samurai que sabia que foi derrotado, perdeu a honra, ou que foi mortalmente ferido. Isso significa que poderia terminar os seus dias com as suas transgressões apagadas e com a sua reputação não apenas intacta, mas na realidade reforçada. O corte do abdómen libertava o espírito do Samurai da forma mais dramática, mas era uma forma extremamente dolorosa e desagradável de morrer e por vezes o Samurai que realizava o acto pedia a um fiel companheiro que lhe corta-se a cabeça no momento da agonia."
The World of the Warrior (Stephen Turnbull)

O guerreiro é também aquele que procura o seu caminho, que tem um objectivo de acordo com ele e está consciente das suas qualidades e limitações, alcançando a sua meta através da vontade de vencer essas limitações. O seu caminho passa pela "pena e pela espada", pois não basta praticar a "arte da guerra", mas também a leitura e a escrita, buscar o conhecimento.

"Um samurai deve antes de tudo ter sempre em mente, dia e noite, desde a manhã de ano novo, quando pega os palitos para comer e tomar café, até a noite do último dia do ano, quando paga suas facturas, o facto de que um dia irá morrer. Essa é a sua principal tarefa." Daidoji Yuzan

Nota: este post nada mais é do que uma fraca tentativa de descrever algo que ultrapassa as palavras.

Filmes: Shogun; O Senhor da Guerra; The last Samurai.
Leituras: toda a obra de Venceslau de Morais; Yukio Mishima.

Arigato

Sem comentários: