quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Paulo

Tem 15 anos, ele. O que se sabe da vida? Um quase nada. Mas, nesse quase nada adivinho já muitas desilusões e desatinos. As suas mãos são feitas de dedos nervosos e o olhar é ansioso. A roupa que cobre o seu corpo magro está mal cuidada. Tudo nele é um desalinho.

A folha que lhe dei está em branco. Separou a carteira dele de todas as outras e eu deixei. Ficou assim, tolo, no meio da sala, afastado de tudo e de todos. Entre nós um corredor de pequenas cabeças debruçadas sobre o trabalho. Silêncio. Não uma provocação, mas um pedido mudo de ajuda...eu sei...adivinho-o.

Vou até é ele e peço-lhe, baixinho, que se levante e venha comigo até às largas janelas da sala. "Para quê?" pergunta-me, confuso. Insisto.

Olhamos os dois lá para fora. "Repara, Paulo, como é bonito o Outono." Ele ri-se e em jeito de desafio diz-me que só vê mato, lixo. "Estás enganado. Olha lá com atenção. Não vês as cores das folhas das árvores...os castanhos, os amarelos...e a chuva a bater nelas? Vão acabar por cair todas."

Novo silêncio. O Paulo quer desviar os olhos das árvores que lhe mostro. Poiso a minha mão no seu braço e digo: "Olha, as coisas são mesmo assim. Daqui a uns meses volta o verde e vai ficar tudo bem. Gostaria muito que ainda cá estivesses para vermos isso. Agora volta para o teu lugar." Obedece. Deita a cabeça, sobre os braços, na carteira. "Vai passar, Paulo, acredita."

Nota: o Paulo é um jovem em risco de abandono escolar.


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