terça-feira, 9 de novembro de 2010

O poço

A descida ao fundo do poço fez-se lentamente. Foi um resvalar por paredes viscosas, sem pontos de apoio, sem dar por nada. Apenas me dei-me conta disso quando senti a humidade, a estranha escuridão que desalenta e uma nesga de céu cinzento. Onde estou eu? Como cheguei aqui? Tentei trepar. Reuni todas as forças que me restavam e tentei chegar à superfície sem sucesso. Bati contra as paredes na esperança que elas desmoronassem. Nada a fazer. O poço era a gaiola de onde parti, em tempos, e a porta voltara a estar fechada. Bati as asas e perdi penas na vã tentativa de me libertar. Desisti. Cansada encostei-me às grades e fiquei a olhar para o exterior, já sem vontade de lutar, sem vontade de nada a não ser deixar-me ficar.
Derrotada? Não podia ser derrotada e muito menos por mim mesma. Um novo esforço era necessário. Pedi ajuda e deram-me unhas de aço. Com elas começo aos poucos a trepar as paredes que me levam à superfície e estou quase lá. Quase, quase lá. O céu diz-me: "Anda voar. Tenho saudades tuas." E eu tenho saudades dele. Quando chegar ao cimo do poço, vou bater as minhas asas de tal forma que alcançarei as nuvens, a paz e a serenidade de que preciso.

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